Ô bicho para sofrer é pobre

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"O brasileiro é cordial" diz o humorista José Simão em um de seus bordões. Também tem a fala fácil e facilidade para falar sobre a própria vida com estranhos. Esta característica é de uma forma mais acentuada no nordeste e no Ceará ganha destaque.

Gosto muito de escutar o que dizem as pessoas nos ônibus e nas paradas quando esperam coletivos. Basta um pouco de atenção e a pessoa abre o coração. Em três tempos a pessoa conta a história de sua vida sem nenhum respeito humano.

Hoje conheci uma senhora na parada de ônibus próxima à igreja Canaã, no Passaré. Foi dela que ouvi em tom humorado a  frase "Ô bicho para sofrer é pobre ". Reclamava da demora dos coletivos, do sol escaldante.

Ao seu lado tinha um senhor que concordara com a citação. "Hoje é dia de tirar meu aposento (aposentadoria), peguei uma fila imensa e quando chegou minha vez o diacho do sistema estava fora do ar. Tive de esperar mais uma hora". Finalizou a história com o refrão da conversa "Ô bicho para sofrer é pobre".

"Mas é só meu menino terminar de tirar a carteira de motorista que vou comprar um carrinho" - disse.

"Um fusca?" - perguntou sorridente o senhor. " E fusca lá é carro?" - respondeu sem pestanejar a senhora mãe de seis filhos, sendo  dois deles  homens. Um mais quieto - o que está tirando a carteira - outro mais danado, como ela classificou. Das filhas uma dirige, mas tem medo, nem arrisca andar com ela. "O carro dela é um ...um...Honda Fisic", disse orgulhosa enquanto separava 50 centavos para a neta comprar um copo d'água para amenizar o calor.

"E fusca lá é carro?"

"Desse meu menino  não tenho o que dizer", contou-me. Ao que eu balanço a cabeça sentiu-se à vontade para dizer suas virtudes. "É de casa para o trabalho, do trabalho para a igreja. Não bebe nem  fuma". "Não bebe?" - Perguntou admirado o senhor ao lado. "Não!",disse dando de ombros. "E o marido?" retrucou o homem. "Já bebeu muito. Enjoou. Bebia naquele bar ali" - disse apontando com os lábios para um estabelecimento às costas da parada. "Aliás, só quem bebe lá em casa é um dos meus genros.  Tenho três. Esse é o único defeito dele", soltou.

Ainda soube que dois dos filhos trabalham na OI, uma é gerente e tem 3 formados. "Tudo estudado". E o melhor: todos levam dinheiro para casa. "Eles colocam na minha mão e dizem que posso gastar como quiser". Fiquei sabendo de tudo em menos de 10 minutos de conversa. Chegou meu ônibus e a prosa terminava como começara: " tá bem pertin dele tirar a carteira", afirmou como num prelúdio da felicidade.

Ao ponto

O interesse do filho desta senhora em comprar um carro reforça os dados divulgados nesta terça-feira,11, na  pesquisa   feita pelo Observatório das Metrópoles que usa dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), onde apresenta Fortaleza como umas das metrópoles brasileiras que mais aumentou a frota de veículos. Entre 2001 e 2011 a capital ganhou novos  296.964 nas ruas. 

Ao ponto 2

E para quem pensa em tirar a carteira assim como o filho  prendado da senhora desta postagem precisa desembolsar quase 2 mil reais. Para conferir mais dicas clique,aqui.